23 de mar. de 2005

Hoje não há amanhã

"Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."
(Karl Marx, O 18 Brumário de Luis Bonaparte)


Hoje não há amanhã.
Se o passado berra,
o presente chora
e o futuro se desfaz.

Hoje não há amanhã.
O amanhã não se vive
quando se deixa de lado
o presente que há.

Hoje não há amanhã.
À sombra do nunca,
manchado de ontem
o hoje ruirá.

Hoje não há amanhã.
Não se pode viver
o que não existe
ainda ou mais.

Hoje não há amanhã.
A solução existe,
e o dia de hoje
eu vivo em paz.

13 de mar. de 2005

Choro

Pablo Neruda foi um grande poeta e um grande comunista. Ensinou-me certa-vez que não acabo em mim. Disse assim em seu poema A meu Partido: "Me has hecho indestructible porque contigo no termino en mí mismo". Fizeste-me indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo. Esse é o lema de quem busca mudanças. Esse é o lema de quem sabe que a sociedade não se transforma sem luta, e sem homens e mulheres organizados para a mudança. A luta pela mudança radical da sociedade passa pela luta de vários homens e mulheres determinados a dedicarem suas vidas à causa de muitos. É essa a minha luta. E, sem que esteja completa, a injustiça e a opressão, a exploração do homem pelo homem me machucará.

Choro

O céu nublado de Curitiba mais uma vez me entristece.
Eu choro.
Por tudo e por todos,
mais uma vez hoje eu choro.

Um dia li Neruda e aprendi
que eu não acabo em mim.
Um dia eu vi
que tudo à minha volta me completa.
E hoje tudo à minha volta me machuca.

Se a inércia dos dias
que sempre me separam
da minha plenitude
não acaba e não permite
que a luta que outros lutaram
em mim se complete,
mais uma vez
o céu nublado de Curitiba me entristece
e então eu choro.