18 de ago. de 2005

Não sou eu quem me navega

Há uma música de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho fizeram uma música que é mais ou menos assim:

"Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz"

A última coisa que poderia fazer seria negar que me identifico com esta música. Ao contrário, trata-se mesmo da minha ética (no sentido original, os princípios que guiam minha vida). É por isto que escrevi este poema:

Cego

Não sou eu quem me navega
já disse a canção
E vendo como o cego enxerga
eu vivo
só não sei se em vão

Na alegria e tristeza do passo
enxerguei o vazio
Ali estava o futuro que faço
para lá eu ando
preencher comigo o vazio

Sem nada nunca vislumbrar
- simplesmente viver
Cego, tão somente caminhar
adiante
sem nunca o caminho ver